Projecto Para a Exposição “As Portas Do Mundo”

“Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio
Não é bastante não ser cego
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas”

Ao sermos confrontados com um pedido para um projecto, pulsa instantaneamente o desejo de intervir, de fazer, de criar uma imagem forte que traduza, de algum modo, esse desejo humanamente intrínseco a nós: da autoria e da individualidade. Mais ainda quando o confronto toma lugar num espaço já edificado, com uma identidade forte e marcada, aí, esse querer fazer algo significantemente nosso, cresce intranquila e velozmente. Somos intervenientes no espaço, na função e porque não na imagem.

No entanto, momentos há que a melhor oportunidade que temos é de fazer silêncio e deixar que o que importa fale por si…

É então um labor de síntese: o desenho do suporte daquilo que realmente nos trouxe a este ponto – as obras a expor.

Seguimos então pela criação de um espaço silencioso, que se acomoda ao edifício, placidamente, tomando a sua forma. Procura servir apenas como fundo às obras. Opta-se pelo cinzento como cor dominante. Esbate-se a imagem para aclarar a experiência da contemplação. O espaço permite o avançar e recuar perante a obra, o pormenor e o todo, permite a deambulação. Os percursos são livres e o fruidor escolhe, fluidamente, a dinâmica da sua exposição, ora seguindo as paredes sistematicamente, ora arriscando a ousadia do desvio que o seu olhar cativado pede. Aqui não somos turistas com um mapa, somos antes um flaneur curioso. A descoberta faz-se através da experiência e com os sentidos.

Esta é uma narrativa informal, empírica, e como tal socorre-se dos mecanismos da narração oral: eliminamos os pormenores que não servem à história, insistindo assim na repetição daqueles que são necessários à acção.

É por isso um projecto que se quer tranquilo, diz-se neutro na relação com as obras para que estas possam tomar o seu lugar próprio, o de protagonistas de um argumento, onde o projecto deve ser apenas o fundo diluído e desfocado onde a narrativa se desenrola, sem contar nenhuma história, um parceiro tácito, um companheiro silencioso.

Só porque, como escreveu Alberto Caeiro, por vezes “é preciso não ter filosofia nenhuma. | Com filosofia não há árvores: há ideias apenas”.