Neste projecto procurou-se estudar a forma como mecanismo gerador de sensações, no sentido de se pesquisar as qualidades formais e espaciais que vêm a proporcionar uma determinada experiência na fruição do edifício.

Foram determinadas com o cliente diferentes sensações e conceitos de modo a que pudesse ser estabelecida uma semântica comum para o projecto. Seria dessa semântica que depois se partiria para a construção de uma narrativa espacial, onde se pudesse então percorrer sensorialmente o glossário proposto inicialmente. Quase de um modo literal, pudemos espalhar numa planta do terreno as palavras e marcar as suas relações, com o meio físico e real - o terreno, o sol, a estrada, o vale – e entre si, num plano mais abstracto, relações sintácticas que acabariam também por ajudar a definir a forma desta casa e o modo como se colocaria no lugar.

Tentou-se criar uma poética que é entendida por nós e pelo comitente, participante activo deste diálogo, que é clara no processo e aos olhos dos seus intervenientes, que se embacia aos olhos de terceiros, somente porque lidam com signos diferentes. Não é um código trancado, nem foi feito para ser secreto, foi apenas uma escolha de autores e comitente de acordo com o quadro em que se cruzaram valores comuns. Resolveu-se assim aquele dilema que Calvino expõe como o drama da génese do acto criativo, que no início se põe que se pode dizer tudo de todas as maneiras possíveis, e que como finalidade se impõe dizer uma coisa de uma só maneira.

As primeiras quatro palavras deste glossário têm as suas fronteiras muito juntas e diluídas, mas foram precisamente as suas nuances que nos atraíram: Percurso, Caminho, Meta e Deambulação. Os primeiros dois signos, Percurso e Caminho, o trajecto entre dois pontos de onde se vai de um lugar a outro, são muito próximos entre si. Têm a nosso ver uma pequena diferença que foi suficientemente importante para que tivéssemos de dividir esta ideia em duas palavras, destes trajectos entre dois pontos, desse ir de um lugar a outro, separámos o aspecto de movimento físico, o caminhar no espaço, do aspecto visual, mais abstracto, do acto de percorrer com os olhos, visualmente. Foram criados enfiamentos visuais entre diversos espaços e atravessando a casa, ligando lugares remotos do terreno, de modo a que se pudesse criar novas relações entre diversos pontos que não estavam relacionados fisicamente.

Ficaram ainda as palavras Meta e Deambulação, associadas por representarem um antagonismo de objectivos que tentámos transformar num diálogo produtor de multiplicidade. A ideia de objectivo, de finalidade certa que transporta a palavra Meta parece rivalizar com o vaguear, com a noção fluida de incerteza que corresponde à Deambulação. Tentámos, por isso, criar um circuito de múltiplas possibilidades de percursos propícios ao deambular desenhados por vãos, alinhamentos e clarabóias, que por sua vez se cruza com um trajecto físico e visual, marcado e rigoroso que atravessa toda a casa desde a entrada – esse primeiro lugar – até ao terreno no seu ponto mais alto – esse outro lugar.